Wednesday, December 01, 2004

Afinal, há democracia...

Anteontem de manhã, perguntava-me se os portugueses fariam o mesmo que os ucrânianos, caso confrontados com algo semelhante às corruptas eleições entre Viktor Yanukovychko e Viktor Yushchenko. Viriam as pessoas para a rua? Ou assegurariam os “brandos costumes” que estava muito frio para sair?

Enjoado, acabei respirando melhor quando soube que o Primeiro Ministro fora vaiado entre a Régua e Vila Real, Domingo, durante a inauguração do troço do IP3 entre estas localidades.

Ao agradecer tanto os aplausos como os protestos, Santana Lopes atirou mais alguma poeira de democracia aos olhos de todos («ou cinzas», pensei) – atitude muito elegante... mas “Democracia” é uma palavra que parece ter significado diferente para o (ex-)governo PSD/PP.

€1,25 por uns míseros 22 Km que os durienses mendigam há anos?! - Porra, isso é espezinhar a mão de quem pede! Democracia da treta.

E foi assim. Durante os últimos meses não parei de pensar que algo correra mal com esta dita democracia.

Imaginei que a maioria dos portugueses se convencera de que ela cristalizara há 30 anos, e que estaria sempre pronta a misturar em água para confeccionar um pouco de cidadania instantânea, quando necessário.

O país perdeu qualidade de vida, competitividade, rendimentos, e, ainda por cima, liberdade de expressão e informação.

Não me surpreendem as afirmações de Mário Soares sobre “a osmose na sociedade portuguesa entre negócios fáceis e tráfico de influências que é muito preocupante" (Fonte: LUSA,19-11-2004 4:04:00., Notícia SIR-6529296).

Surpreende-me, sim, que os heróis desta terra sejam sempre os mesmos. Afinal, Soares teve a sua revolução, Cavaco teve o seu Governo, Marcelo Rebelo de Sousa está reformado... e todos eles estão a pensar voltar, intervir, como quem diz: «Mas será que estes miúdos não sabem fazer nada sozinhos?» - Cai Guterres, Durão Barroso (o PM bombeiro) esquiva-se para a UE, e Santana Lopes... bom, nem vale a pena falar disso, agora.

"(...) deixar correr o indiferentismo perante os abusos, as injustiças e as corrupções é o pior que pode suceder" (mesma fonte), disse Mário Soares – “será que alguém o ouviu?” perguntei-me; pareciam todos indiferentes...

"Quando um homem como Marcelo Rebelo de Sousa, conhecido no país de Este a Oeste, ex-líder de um grande partido, recebe este tratamento, imagine-se o que os pobres jornalistas ou outros comentadores passam" (Fonte: LUSA,19-11-2004 4:04:00., Notícia SIR-6529296).

No final de contas, creio que a mensagem passou... para Sampaio, que tomou uma atitude histórica que me deixou um sorriso e uma genuína vontade de – pela primeira vez – voltar a Portugal.

Ontem, sim, valia a pena ter pendurado uma bandeira na janela.

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