Thursday, November 18, 2004

Portugal dos Pequeninos ...

Ja nao me surpreendo.

Finalmente, FINALMENTE, os profissionais da comunicacao decidem insurgir-se. Aos poucos delineiam-se os contornos de um movimento coeso em prol da liberdade de (imprensa e de)expressao da opiniao. E o que e que acontece?

O tipico amorfismo portugues.

O tugales preocupado com as prendas de Natal e com o futebol e com tudo aquilo que contribui para a sua pequena felicidade, porque, afinal, a democracia e ja um bem-adquirido. Viva o 25 de Abril e todas as festas comemorativas que se possam organizar em torno da data, porque e isso mesmo: uma data.

Caramba:

Jose Rodrigues dos Santos e Judite Sousa a baterem com a porta da RTP?
Marcelo Rebelo de Sousa a mandar a Media Capital (perdao, a TVI) pastar, depois dos comentarios de Rui Gomes da Silva?
Clara Ferreira Alves a declinar o convite de Mario Bettencourt de Resendes para dirigir o DN, alegando falta de liberdade de imprensa em Portugal como motivo?

E, entretanto, Moraes Sarmento a desacreditar a Alta Autoridade para a Comunicacao Social, Paulo Portas a nao se dar ao trabalho de prestar declaracoes...

Uma vez, apos uma entrevista com alguem que conhece bem os meandros jornalisticos, tive direito a duas horas de off the record que me deixaram parvo. Desde grandes jornais nacionais onde a figura do chefe de redaccao deixara de existir, a estagiarios enviados para o Iraque (porque, com sorte, recebem 80 a 90 contos por mes para se atropelarem uns aos outros, enquanto um jornalista a serio sai mais caro), tudo parecia tirado de um filme. De um mau filme.

Mas de facto, revelaria o "Publico" uma reportagem chocante sobre a Sonae? E o DN, o JN, o Tal & Qual.... revelariam dados comprometedores sobre a PT ou a Lusomundo?

E a RTP, permitiria que um comentador que critica, abertamente, o actual Primeiro Ministro integrasse as suas fileiras? - Mesmo que de borla?

So assim se explicam os tepidos titulos e leads nos jornais nacionais, no que toca a estas andancas.

Se alguem decidisse analisar a promiscuidade que abunda nos jornais regionais (em algumas regioes, pelo menos), a coisa tornar-se-ia ainda mais interessante. Podiam comecar por algo simples, como contar o numero de verdadeiros jornalistas dentro de cada orgao de comunicacao social regional, e, ja agora, separar as pecas de reportagem/investigacao das encomendas... Isso e que era bonito de ver.

E triste ver o entusiasmo com que (nao) se apoia quem luta pelo direito a livre expressao da opiniao. Um belo dia apercebi-me de que, em Coimbra, jaz o verdadeiro pleonasmo nacional - o "Portugal dos Pequeninos".

Curiosamente, o Portugal dos Pequeninos acaba por ser um bom exemlpo de planeamento urbano (embora a escala), e por isso vale a pena levar la as criancas, porque para ver pequenez a escala nacional basta ligar a TV, ou mesmo, sair a rua.

(Para quem deu pela falta dos `, ~ ou ^, informo que tal coisa nao funciona em teclados estrangeiros. Azar.)